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29/05/2018 16:41h - Porto Velho - Andrey Cavalcante

“Cultura do medo”, por Andrey Cavalcante

Andrey Cavalcante, presidente da OAB Rondônia

Ao receber, em nome da OAB Rondônia e com grata satisfação, mais um substancial grupo de novos advogados em solenidade realizada nesta segunda-feira, fiz questão de enaltecer sua coragem de romper, com decisão, as barreiras naturalmente impostas pela ortodoxia que, em sentido amplo, reduz o indivíduo à estagnação e ao imobilismo determinados pelo medo de errar. E optar pela via correta da ortopraxia, não apenas aquela religiosa, mas a que conduz à aplicação dos conhecimentos adquiridos na busca de resultados práticos. É preciso – convenhamos – decisão e atitude para optar por linhas de ação concretas, passar para a outra margem. É preciso viver o presente, não apenas como reprodução do passado, mas com o enfrentamento dos desafios que nos estão reservados pelo futuro. É preciso coragem e audácia, como antídoto contra o medo. Vivemos, hoje, num mundo amordaçado pela cultura do medo. Medo de perder o emprego, o medo de não encontrar um novo emprego. O medo de errar, o medo de estar na direção do dedo apontado, o medo de não ser aceito pela sociedade, o medo do comentário e da crítica, o medo de ficar paralisado e recear existir. Estamos permanentemente assombrados pelo medo das implacáveis redes sociais, com a agressividade, leviandade e fakes que por elas trafegam com desenvoltura insuportável. E, principalmente, o medo contraditório da solidão, pois que é o próprio medo que a ela nos conduz. Se sozinhos podemos chegar mais rápido, acompanhados chegaremos mais longe, advertem os filósofos. Uma situação que Newton bem apontou ao dizer que “Se eu vi mais longe foi por estar de pé nos ombros de gigantes”. “Ninguém chega a lado nenhum sozinho. Desenganem-se” – adverte o articulista português Diogo Agostinho, consultor executivo do Conselho de Cascais. Para ele o medo é hoje um dos nossos maiores males sociais. Qualquer mudança aponta na direção do desconhecido. E embute o risco do erro. E é aí que aumentam as resistências. A base está no medo. O receio de errar se estende para o receio de fazer e o receio de ousar. Isso leva a inibições e burocracias estéreis. “Errare humanun est“, já advertia Santo Agostinho, sem, contudo, considerar que ninguém está a salvo do saque de dedo rápido para apontar, a mordacidade da crítica, mesmo quando disfarçada de palavras de consolo, que apenas pioram a situação. Raphael Boldt, em Criminologia midiática, diz que “Tema central do século XXI, o medo se tornou base de aceitação popular de medidas repressivas penais inconstitucionais, uma vez que a sensação do medo possibilita a justificação de práticas contrárias aos direitos e liberdades individuais, desde que mitiguem as causas do próprio medo. “Posso afirmar, sem medo de errar, disse a eles – e isso vale para cada formando ou bacharel que se prepara para submeter-se aos rigorosos exames da OAB -, que cada um dos senhores, em algum momento de sua vitoriosa caminhada em direção à conquista que hoje comemoramos aqui, se viu tomado pelo desassossego, dúvidas e inquietações, que nada mais são do que alguns dos múltiplos disfarces do medo. Posso assegurar que somente a pertinácia, a perseverança, a tenacidade e a obstinação os conduziram ao sucesso. Seu destino está claramente delineado na direção do sucesso profissional, não importa por quais rumos possam optar. É preciso esclarecer que audácia não é ignorar o medo. A isso se chama loucura. A audácia é aquilo que nos torna capazes de conhecer o medo e enfrentá-lo com coragem. A audácia é o que nos pode fazer errar e tentar de novo. E de novo, quantas vezes forem necessárias para atravessar as águas revoltas do rio da vida e chegar ao outro lado. O caminho do sucesso é permanentemente obstaculizado por barreiras aparentemente intransponíveis. Mas a caminhada de cada novo advogado será sempre acompanhada – e orientada – por uma entidade com a credibilidade, respeito e sustentação institucional da OAB. E com os direitos constitucionalmente estabelecidos às prerrogativas dos advogados. Posso assegurar, por fim, que o vigor demonstrado por cada um, no esforço para superar dificuldades e conquistar seu espaço em nosso meio, irá contribuir para ainda maior fortalecimento da OAB, especialmente nesse momento dramático que o País atravessa. A OAB está permanentemente mobilizada em defesa da constituição, das leis e dos ideais democráticos. É o nosso compromisso histórico. É o que o país e os cidadãos esperam de nós.

Fonte: Andrey Cavalcante

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