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24/08/2017 14:19h - Porto Velho - Andrey Cavalcante

“Não ao distritão!”, por Andrey Cavalcante

Andrey Cavalcante, presidente da OAB Rondônia

Estamos no frontispício das eleições gerais no país, programadas para outubro do próximo ano. Mas embora dirigentes das agremiações partidárias, seus representantes nos governos e parlamentos e todos aqueles que invariavelmente as orbitam já se movimentem claramente e se articulem em todo o país, o ator principal daquele que deveria ser um espetáculo da democracia – o cidadão – permanece absolutamente alheio, abstraído, desinteressado e indiferente em relação ao assunto. Não deveria. A sucessão de escândalos e contumélias praticados – inclusive ao vivo, no Congresso – além daqueles decorrentes das denúncias surgidas em cascata nas operações de combate à corrupção acabaram por demonizar os políticos de uma forma generalizada. Mas não se pode admitir, absolutamente, a produção de semelhante efeito em relação à política, sem a qual não existe o estado democrático. Eis a questão. Não se pode atribuir à democracia a responsabilidade pelo asco que o noticiário político provoca diariamente. É preciso direcionar a indignação popular ao destinatário correto. Qualquer raciocínio diverso equivale a encontrar no canto do galo a culpa pelo alvorecer. O país precisa da política na mesma medida em que ela demanda a participação do cidadão consciente de sua própria responsabilidade cidadã, cujas ações sejam pautadas pelo respeito incondicional à ética, às leis e à constituição. Sem a efetiva mobilização consciente da sociedade, aqueles que personificam a indignação e revolta que se estampam hoje no semblante de cada cidadão de bem poderão ter assegurada a própria recondução ao que imaginam ser uma barreira instransponível capaz de resguardar sua impunidade. Esse é o efeito colateral perverso do alheamento e do desprezo populares em relação não apenas aos políticos, mas à política, na mesma medida. E parece que os estrategistas dos partidos conduzem as ações no Congresso exatamente nessa direção: quanto mais avesso o público à vida política maiores serão as possibilidades de reeleição para os atuais ocupantes que não dignificam a vontade soberana. Faz parte dessa estratégia a proposta de reforma política exclusivamente conduzida no sentido de aprovar o financiamento público das campanhas eleitorais e o chamado “distritão”, sistema que anuncia a virtude de pode acabar com as conhecidas siglas de aluguel, muitas dos quais não são mais que pequenas empresas privadas imersas em grandes negócios públicos e privados. Mas a verdade é que esse sistema favorece em muito a recondução dos atuais titulares dos cargos, mais conhecidos pela forte exposição na mídia e principais beneficiários da distribuição do fundo de R$ 3,6 bilhões a serem destinados aos partidos conforme o tamanho das bancadas que deputados e senadores pretendem aprovar para o financiamento de campanhas. É, na opinião do presidente nacional da OAB, Cláudio Lamachia, “Um verdadeiro deboche com o cidadão brasileiro”. Ele observa que a maioria dos estados brasileiros encontra dificuldades para cobrir a folha de pagamentos dos servidores. “O cidadão financiam campanhas não apenas com esse fundo. Paga ainda pelo Fundo Partidário, que supera a casa dos R$ 800 milhões, e ainda o horário dito gratuito na TV e rádio, que também é pago pelo erário, ou seja, com os impostos cobrados de cada cidadão, com a desoneração de tributos”. É preciso restar estabelecido – e cada um de nós tem o dever de mostrar isso a seu deputado – que é ruim para o país uma regra na qual o mandato tem como proprietário um indivíduo comprometido exclusivamente com seus próprios interesses.

Fonte: Andrey Cavalcante

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