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04/04/2020 08:18h - Porto Velho - Andrey Cavalcante

“Não espere pela leucemia para rever sua vida (LFG)” por Andrey Cavalcante

Andrey Cavalcante - Conselheiro federal por Rondônia

“Sucesso é ter um sonho, lutar muito por ele e conseguir realizá-lo”. O autor do emblemático aconselhamento com certeza aplicou o receituário, pleno de êxito, na ampla diversidade de atividades às quais se dedicou em sua fecunda existência, prematuramente abreviada, aos 62 anos. Uma leucemia mieloide aguda priva o país da presença agradável, do bom senso, do equilíbrio, da generosidade, da sabedoria, da criatividade e da inesgotável capacidade de trabalho do amigo e sempre mestre, Luiz Flávio Gomes. Uma ausência física nunca demais sentida, que lega uma imensa gratidão, além da presença permanente nas mais agradáveis lembranças, que nos enriquece a alma e engrandece o espírito, sentimento que respeitosamente compartilho com sua esposa, Alice Bianchini, brilhante colega no CFOAB, conselheira federal por São Paulo. Da mesma forma em relação a a Thaís, mãe de seus filhos, Luiz Felipe e Paulo Otavio. Deputado Federal, Jurista excepcional, autor consagrado, mestre pela USP, doutor pela Universidade de Madri, amante da boa música e percussionista (tocava bateria), Luiz Flávio Gomes merece ser enquadrado, sem exagero, pela clássica sonoridade de sua profícua e fecunda produção editorial, entre os agraciados pela consideração de Cora Coralina: “Não morre aquele que deixou na terra a melodia de seu cântico na música de seus versos.” Foi na luta em favor dos próprios sonhos que ele se elegeu deputado federal. Em Brasília, segundo artigo de Arthur Kaufman, dispensou o salário de deputado: alegou já receber provimentos da aposentadoria como juiz. E declinou do auxílio moradia, para assumir os custos da residência. Sua bandeira era a luta contra a corrupção, aliás tema de seu último livro publicado, “O Jogo Sujo da Corrupção”. Já havia, em função disso, lançado em 2016 o movimento “Quero um Brasil Ético”. O inevitável sentimento de perda irreparável pela perda do amigo, prefiro substituí-lo pela profunda gratidão inclusive por seu desprendimento, que o fez deixar seus inúmeros afazeres para proferir palestras em todo o Estado de Rondônia. Seus inestimáveis ensinamentos e larga experiência no ensino à distância, como fundador da Rede LFG, que democratizou o ensino jurídico no Brasil com a primeira rede tele presencial de educação da América Latina, foram outra contribuição na formatação da educação continuada para advogados de todo o Estado. Não há, porém, como dimensionar adequadamente a grandeza de espírito e a coragem de Luiz Flávio Gomes na intensidade da busca pela realização de cada um de seus sonhos. Em depoimento, já claramente debilitado, logo após raspar o pouco cabelo que resistiu ao tratamento quimioterápico, ele deixou claro que jamais haveria de abandonar seus sonhos e esperanças. Isso, num momento em que era confrontado com a perspectiva filosófica da finitude da vida. Mesmo assim, fez questão de recomendar: “Não esperem a leucemia para reavaliar sua vida. Faça isso agora. Concilie o que é urgente e o que é importante fazer. E exclua o que é irrelevante”. Mais comovente ainda foi sua preocupação em gravar uma mensagem aos familiares, amigos, eleitores e colaboradores, já consciente da aproximação do fim. A família produziu uma lembrança na qual LFG, como era conhecido, fez questão de agradecer a todos com um bem humorado “arigato”. Disse que iria tentar não se emocionar e falar o mais tranquilamente possível: – “Eu fiz tudo o que pude. Lutei, lutei, mas infelizmente acabou. Tinha muitos projetos para fazer. Iria contribuir bastante. Muita coisa foi feita. Tudo o que eu podia eu fiz. Dizer que eu adoro todo mundo. Claro, tem pessoas que é mais fácil fazer um agradecimento especial, evidentemente que tem, mas diante da impossibilidade de estar abraçando todo mundo, ao menos gravo uma mensagem genérica e que caiba para todos. Nesse sentido estou trabalhando nessas últimas horas. Vamos em paz!” Permito-me acrescentar, às minhas lembranças mais acalentadas, outro ensinamento primordial do inesquecível amigo: “A única carta de alforria para quem está nas camadas sociais mais baixas é a educação. O que define nossa vida é o capital cultural, não é o capital econômico. Depois do meu pai, meus heróis são os professores. Com os ensinamentos da vida, com esperança de um Brasil melhor, acredito que possamos fazer parte desse ciclo de mudanças. Vamos juntos por um país mais ético”. Muito obrigado LFG.

Fonte: Andrey Cavalcante

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