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17/03/2023 16:16h - Rondônia - Cultura

Série feita em Rondônia traduz conteúdos complexos para 'linguagem da quebrada'

Roteiro da série é acompanhado por especialistas para explicar termos técnicos com uma linguagem acessível. Conteúdo vai ser disponibilizado gratuitamente no New School, um aplicativo direcionado para jovens da periferia. Foto: Casaquatro/Reprodução

Um movimento educacional que nasceu dentro de uma comunidade explica com linguagem simples assuntos complexos. É o New School, um aplicativo gratuito direcionado para jovens da periferia. A próxima série de conteúdos que deve chegar ao app é gravada em Rondônia nesta semana. A produção termina oficialmente no próximo sábado (18). A série vai ter quatro episódios, entre os assuntos explicados estão: pessoas, rios e suas possibilidades, floresta e desmatamento, energia e infraestrutura. "A gente constrói os roteiros com especialistas nos assuntos. Para traduzir tudo para uma linguagem simples trazemos especialistas periféricos que cresceram ouvindo gírias e entendem a realidade da favela. Mas tudo passa por um crivo, inclusive da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), para ter todo o cuidado de não perder a relevância da metodologia porque não adianta ter um conteúdo raso", disse Ronald Pinheiro da Silva, cria da quebrada de São Paulo, lá ele é conhecido como mano Ronald. Tudo que foi produzido em Rondônia vai ficar dentro do aplicativo New School, disponível gratuitamente para pessoas de todo o mundo. Outro ponto importante para a construção narrativa das aulas é tentar mostrar para os estudantes espalhados pelos quatro cantos do país, como é a linguagem local de onde os conteúdos foram gravados. "Como cada quebrada é diferente, naturalmente cada uma tem seus dialetos. Aqui em Porto Velho, por exemplo, tem [a expressão] 'maceta' que significa 'algo grande'. Pra mim em São Paulo isso é outra coisa. Então o que a gente faz? Constrói um roteiro com especialistas do assunto em cada cidade para ter os dialetos locais", explicou Ronald. 'O corre é pelo acesso à educação' O projeto, chamado de New School, começou a ser pensado por João Paulo Malara, em 2014, após a morte do irmão mais novo, Gabriel. "Quando a gente perde uma pessoa na quebrada a gente se pergunta 'porquê?'. Tem uma frase do Nelson Mandela que diz que 'a educação é a arma mais forte para mudar o mundo'. Então New School nasce como um movimento educacional para mostrar para o jovem que tem como sonhar. Esse movimento nasce como uma solução para esse problema da falta de acesso à educação e às oportunidades", comentou Gabriel Alves Ribeiro, conhecido como Gabão. Ele também está em Rondônia para a gravação da série. Por mais que sejam favelas, periferias e quebradas diferentes em São Paulo, no Rio de Janeiro ou em Rondônia, os pesquisadores apontam um problema comum em todos os lugares: a falta de acesso à educação igualitária para todos — que ainda é uma realidade no Brasil. "Então nosso trampo no fim do dia é conseguir trazer uma linguagem simples e acessível porque a gente acredita que a educação tem que chegar com qualidade para todas as favelas do país. É isso que vai mudar o jogo. Isso vai mudar nossa realidade. Isso que vai possibilitar que o favelado tenha mobilidade social, não só com subempregos. Existe um bom futuro e ele está vindo", disse Ronald. Segunda vez na Região Norte Gabão também comentou que essa é a segunda vez do projeto na Amazônia. A primeira temporada foi gravada em Manaus (AM). Para ter referência à região, a série ganhou o nome de Quatipuru — o menor esquilo do Brasil que é encontrado em áreas restritas da Floresta Amazônica. Adiante a ideia é gravar em outros pontos da amazônia legal brasileira. "Mas na série Quatipuru a gente não vai só falar da floresta e do estereótipo que ela tem. Aqui em Rondônia estamos falando de quatro temas: pessoas, rios e suas possibilidades, floresta e desmatamento, energia e infraestrutura. A gente quer ouvir e entender a visão das pessoas que estão aqui e levar a realidade daqui pra fora", disse Ronald. Para eles, entre os episódios da série, o tema mais difícil de traduzir foi energia e infraestrutura. Para entender a parte técnica foram consultados, por exemplo, especialistas da Santo Antônio Energia. Além mostrar como esse tipo de empreendimento funciona na Amazônia, a série quer explicar como a tecnologia evoluiu ao longo dos anos. "Existe no imaginário das pessoas, de uma maneira geral, que os projetos grandes de infraestrutura são inacessíveis, mas a nossa intenção em ajudar o New School é desmistificar isso. É trazer [os termos técnicos] para uma realidade do dia a dia. Mostrar que as coisas que são produzidas aqui esbarram no cotidiano: é o celular que ligamos na tomada no fim do dia, o computador, a televisão", Maurício Vasconcelos, coordenador de comunicação da Santo Antônio Energia. Por Ana Kézia Gomes / g1

Fonte: G1

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