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14/01/2022 09:24h - Brasília - Geral

Pablo Marçal “Coach messiânico” foi condenado por integrar quadrilha que desviou dinheiro de clientes de bancos

Pablo Marçal, resgatado com 32 pessoas em trilha na semana passada, foi condenado por furto qualificado, em 2010, mas pena foi extinta.

O “coach messiânico” Pablo Marçal (foto em destaque), de 34 anos, já foi condenado, em 2010, por participar de uma quadrilha que desviou dinheiro de bancos. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), Marçal era ligado diretamente a dois homens acusados de chefiar o bando. Ele captava e-mails que seriam infectados com programas invasores e consertava os computadores usados pelos criminosos. O Metrópoles teve acesso a detalhes da investigação. O hoje influencer, porém, teve a pena extinta, em 2018, por prescrição retroativa, uma vez que se passaram mais anos do que a sentença em trânsito em julgado. Com mais de 2 milhões de seguidores no Instagram, Pablo Marçal virou notícia na semana passada, após conduzir 32 pessoas ao topo do Pico dos Marins, na Serra da Mantiqueira, em São Paulo. O grupo precisou ser resgatado pelo Corpo de Bombeiros. O tenente Pedro Aihara, do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, indignou-se com a atitude do coach que liderava as pessoas na aventura, considerada perigosa. “Um ‘coach’ irresponsável, fanfarrão, coloca 60 pessoas para subir o Pico dos Marins debaixo de chuva. Sem conhecimento técnico, sem suporte adequado, sem estrutura, porque, segundo ele, ‘é tudo emocional’”, exclamou o tenente. A atuação de Pablo Marçal na quadrilha teria ocorrido em meados de 2005. Na época, ele tinha apenas 18 anos e morava em Goiânia, sua cidade natal. O processo que tramita na Justiça Federal tem como base investigações da Polícia Federal (PF) que resultaram na Operação Pegasus, deflagrada em 2005. Na ocasião, o grupo foi descrito como a “maior quadrilha de piratas da internet brasileira” pelo jornal Folha de S.Paulo. De acordo com os investigadores, a quadrilha causou “prejuízos relevantes” à Caixa Econômica Federal, ao Banco do Brasil (BB) e a outras instituições financeiras. A organização operava de diversas formas, com a criação de sites falsos de bancos; a emissão de mensagens ameaçadoras e que anunciavam suposta inadimplência da vítima com o Serasa; ou, ainda, com o chamado Cavalo de Troia, programa que captura informações nos computadores infectados. “Existia uma estrutura amplamente organizada, contando com o envolvimento de diversas pessoas, que exerciam funções determinadas, pois uns eram responsáveis pela criação e pelo aperfeiçoamento do programa de computador utilizado nas fraudes, outros contatavam pessoas que pudessem ceder suas contas bancárias para as transferências, além daqueles que faziam os saques”, relatam os investigadores. Para o MPF, Pablo era o encarregado de capturar listas de e-mails para o pastor Danilo de Oliveira, um dos líderes do bando. Em seguida, esses endereços eram infectados com programas invasores, com o objetivo de obter dados e senhas dos correntistas lesados. Com o dinheiro furtado, os líderes da organização criminosa bancaram até mesmo uma Nissan Frontier e uma Montana.
Dezessete anos depois, Pablo ostenta carros luxuosos, como uma Ferrari 458 Itália vermelha – comprada por R$ 991,8 mil em um leilão de carros recuperados de um grupo criminoso – e jatinhos. O influencer se diz uma das pessoas mais ricas do Brasil. Ele vende cursos e promete, com discursos religiosos e frases de motivação, “destravar códigos da prosperidade e do governo da alma”. Pena extinta Em março do ano passado, em live transmitida pelas redes sociais, o coach falou sobre o processo que respondeu na Justiça. Ele nega participação na quadrilha e afirma que “apenas arrumava os computadores”. “Eu não tinha emprego, com 18 anos de idade, consertava computadores e me envolvi com um cara da igreja. […] Eu consertava os computadores e eles ficavam rodando. Acordei um dia e tinha alguém me levando de forma coercitiva”, disse Pablo na transmissão motivacional. “Todas as pessoas que estavam nessa situação foram condenadas e cumpriram pena. Eu fui o único que teve extinção da punibilidade”, prosseguiu o influencer. Pablo foi condenado, em 2010, pela prática do crime de furto qualificado a 2 anos e 6 meses de reclusão. A pena dele foi extinta, no entanto, por prescrição retroativa. Isso não significa que a Justiça entendeu que ele não estaria envolvido com a quadrilha. “Considerando que a pena imposta ao apelante não é superior a 4 anos de reclusão, tem-se que tal pena regula-se pelo prazo prescricional de 8. Contudo, conforme reconhecido pela sentença, o acusado Pablo Henrique, nascido em 18/04/1987, era menor de 21 anos à época dos fatos. A prescrição quanto a ele é, portanto, reduzida à metade. Regular-se, pois, pelo prazo prescricional de quatro anos”, diz a sentença. “Observando que transcorreram mais de quatro anos entre a publicação da sentença penal condenatória no e-DJF1 em 5 de maio de 2010 e a presente data, faz-se mister o reconhecimento, de ofício, da extinção da punibilidade pela ocorrência da prescrição retroativa da pretensão punitiva do Estado”, complementa. Em depoimento à época da denúncia, Pablo também negou a autoria dos crimes. Ele admitiu que prestava serviços de manutenção nos computadores do pastor, além de lhe fornecer listas de e-mails, “mas tudo sem consciência da atividade ilícita” desenvolvida pelo grupo. A negativa, contudo, foi confrontada pelo MPF. “As próprias declarações de Pablo na polícia são discrepantes com a tese de inocência defendida, principalmente quando comenta a participação de Paco, na parte que este teria acesso a ‘todas as contas bancárias que seriam fraudadas por Danilo e Nenê’”, argumenta o órgão. Além disso, o técnico de computador teria participado de um almoço, em uma churrascaria, para tratar da compra de um programa invasor. “Não é crível a negativa de Pablo de não saber que tipo de conversa foi travada entre os presentes”, assegura o MPF. Outro lado Pablo foi procurado por meio de suas redes sociais e pela equipe que aplica um de seus cursos, mas não retomou contato. A advogada dele, Danielle Premoli, pronunciou-se: “Na época dos fatos, o meu cliente trabalhava consertando computadores para um pastor e foi colocado indevidamente nesse processo que desenrolou por vários anos”. “Com relação ao crime, o meu cliente foi o único que teve extinta a sua punibilidade”, prosseguiu. Por Tácio Lorran / colaborou Claudia de Jesus, pós-graduanda em jornalismo investigativo.

Fonte: Metrópoles

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