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18/02/2024 18:31h - Etiópia - Mundo

Netanyahu diz que fala de Lula é "vergonhosa" e convoca embaixador

Em entrevista coletiva, Lula criticou a ofensiva israelense contra terroristas e comparou as ações de Israel com o extermínio de judeus feito por Hitler. Foto: Reuters

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, disse neste domingo, 18, que "comparar Israel ao Holocausto nazista e Hitler é cruzar uma linha vermelha". Trata-se de uma reação à fala do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva. "As palavras do presidente do Brasil são vergonhosas e sérias. São sobre banalizar o Holocausto e tentar ferir o povo judeu e o direito Israelense de se defender", afirmou Netanyahu em seu perfil no X, novo nome do Twitter. "Decidi, com o ministro de Relações Exteriores Israel Katz, convocar o embaixador brasileiro em Israel para uma dura conversa de repreensão", escreveu o primeiro-ministro israelense. Mais cedo, em entrevista a jornalistas, Lula criticou as ações israelenses na Faixa de Gaza, às quais já havia classificado como desproporcionais no passado. O governo israelense afirma que as ofensivas são necessárias para derrotar o Hamas. "Decidi, com o ministro de Relações Exteriores Israel Katz, convocar o embaixador brasileiro em Israel para uma dura conversa de repreensão", escreveu o primeiro-ministro israelense. Mais cedo, em entrevista a jornalistas, Lula criticou as ações israelenses na Faixa de Gaza, às quais já havia classificado como desproporcionais no passado. O governo israelense afirma que as ofensivas são necessárias para derrotar o Hamas. A comparação com a política de extermínio de judeus capitaneada por Hitler é forte porque Israel é um Estado que foi fundado por judeus com o apoio das potências que derrotaram a Alemanha nazista, a Itália fascista e o Japão imperialista na Segunda Guerra Mundial. O território, antes, era habitado por palestinos. Daí as tensões que duram até hoje. Além disso, há um trecho do tuíte de Netanyahu que pode ser entendido como uma resposta a outra declaração de Lula. "Israel luta por sua defesa e para assegurar seu futuro até a vitória completa e faz isso enquanto defende o direito internacional", afirmou o primeiro-ministro israelense. Na quinta-feira, 15, no Egito, Lula havia dito que, aparentemente, Israel tem a "primazia" de não cumprir decisões da ONU. O petista falou isso em um contexto em que criticava a impotência de mecanismos multilaterais frente a conflitos ao redor do planeta. "A única coisa que se pode fazer é pedir paz pela imprensa. Mas me parece que Israel tem a primazia de descumprir, ou melhor, de não cumprir nenhuma decisão emanada da direção das Nações Unidas", disse Lula na ocasião. O petista concluiu neste domingo uma viagem à África que incluiu Egito e Etiópia. A situação humanitária na Faixa de Gaza foi um dos principais assuntos discutidos pelo presidente brasileiro. Ele teve reuniões com o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayyeh, e com outras autoridades sensíveis à causa palestina, como o presidente do Egito, Abdel Fattah Al-Sisi. Lula e seu grupo político têm identificação histórica com a causa palestina. No Brasil, nos últimos anos, forças de direita passaram a dar apoio quase incondicional a Israel. Como mostrou o Broadcast mais cedo, líderes da oposição, como Rogério Marinho e Ciro Nogueira, criticaram o presidente brasileiro depois das falas comparando a ação israelense ao Holocausto. Comunidade judaica repudia declarações de Lula Em nota divulgada neste domingo, 18, a Confederação Israelita do Brasil (Conib), entidade que representa a comunidade judaica brasileira, repudiou as comparações de Lula entre a ofensiva israelense e o extermínio de judeus feito por Hitler. "A Conib repudia as declarações infundadas do presidente Lula comparando o Holocausto à ação de defesa do Estado de Israel contra o grupo terrorista Hamas. Os nazistas exterminaram 6 milhões de judeus indefesos na Europa somente por serem judeus. Já Israel está se defendendo de um grupo terrorista que invadiu o país, matou mais de mil pessoas, promoveu estupros em massa, queimou pessoas vivas e defende em sua Carta de fundação a eliminação do Estado judeu. Essa distorção perversa da realidade ofende a memória das vítimas do Holocausto e de seus descendentes", apontou a entidade. O órgão também questionou a postura brasileira em relação a guerra. "O governo brasileiro vem adotando uma postura extrema e desequilibrada em relação ao trágico conflito no Oriente Médio, abandonando a tradição de equilíbrio e busca de diálogo da política externa brasileira. A Conib pede mais uma vez moderação aos nossos dirigentes, para que a trágica violência naquela região não seja importada ao nosso país." Já o Instituto Brasil Israel (IBI) afirma que as declarações de Lula banalizam o Holocausto e fomentam o antissemitismo. "A comparação da tragédia em Gaza com o Holocausto nazista, feita por Lula neste domingo, é um erro grosseiro que inflama tensões, e mina a credibilidade do governo brasileiro como um interlocutor pela paz. O genocídio nazista foi um plano de exterminar, em escala industrial, toda a presença judaica na Europa, sob uma ideologia de superioridade racial e antissemitismo", diz o IBI. "Não há paralelo histórico a ser feito com a guerra em reação aos ataques do Hamas, por mais revoltantes e dolorosas que sejam as mortes de dezenas de milhares de palestinos, entre eles mulheres e crianças, além dos cerca de 1.200 mortos israelenses e as centenas de civis que permanecem sequestrados em Gaza. A fala de Lula banaliza o Holocausto e ganha contornos ainda mais absurdos em um desrespeito flagrante à presença em Israel hoje de milhares de sobreviventes da barbárie nazista e seus descendentes". O instituto que visa criar laços entre Brasília e Tel-Aviv também relembra os compromissos internacionais firmados pelo Brasil pela preservação da memória do Holocausto. Por Caio Spechoto

Fonte: Estadão

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