Prêmio Nobel da Paz para jornalistas é valorização da democracia, diz Eugênio Bucci

O Prêmio Nobel da Paz de 2021 para os jornalistas Maria Ressa (Filipinas) e Dmitry Muratov (Rússia) evidencia a importância da profissão para a democracia, avalia Eugênio Bucci, professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Em entrevista à CNN, ele destacou que muitos profissionais de imprensa pelo mundo trabalham em condições inóspitas e hostis. Ressa, a primeira mulher neste ano a receber um Nobel, é CEO da Rappler, uma agência de notícias que critica o regime do presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte. Muratov dirige o jornal russo independente Novaya Gazeta. “O Novaya Gazeta do Muratov já teve seis jornalistas assassinados, e a Maria Ressa enfrenta uma sequência de processos movidos pelo poder de seu país”, disse Bucci. “O prêmio Nobel que vem agora serve como uma pequena luz para nos ajudar a entender que paz e jornalismo são reciprocamente necessários.” A sociedade civil depende de verdade factual, liberdade de expressão e direito à informação para viver de forma pacífica, de acordo com o professor. “Portanto, é perfeitamente coerente esse prêmio para dois grandes jornalistas do nosso tempo.” Bases da democracia A dupla de jornalistas ganhou o Nobel da Paz por “seus esforços para salvaguardar a liberdade de expressão, que é uma pré-condição para a democracia e a paz duradoura”, anunciou o comitê norueguês da premiação nesta sexta-feira (8). Para Eugênio Bucci, trabalhos como os de Ressa e Muratov ajudam a combater a associação de figuras políticas com organismos empenhados em distribuir fake news. “Isso é um fato que corrói as bases da democracia porque leva as pessoas à certas ilusões equivocadas, muitas vezes de consequência drásticas. Como, por exemplo, a ideia de que a Covid-19 fosse uma gripezinha e de que as máscaras são ineficazes”, diz. “Tudo isso prejudica a saúde pública e, ainda mais, a democracia, porque afasta a sociedade do conhecimento dos fatos.”