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31/07/2022 00:31h - Brasília - Política

79% dos brasileiros dizem confiar nas urnas, diz pesquisa

(Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)

A confiança do brasileiro no sistema de votação pelas urnas eletrônicas avançou mesmo diante das reiteradas mentiras e teorias conspiratórias repetidas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para colocar em dúvida o processo eleitoral. De acordo com pesquisa Datafolha feita entre quarta (27) e quinta-feira (28), 47% da população diz confiar muito na urna eletrônica, enquanto 32% afirmam confiar um pouco o que gera um índice de credibilidade de 79% para o sistema, segundo o instituto. Outros 20% responderam que não confiam na urna eletrônica, e 1% não soube opinar. A nova rodada do levantamento ocorre na semana seguinte ao que tem sido considerado o mais emblemático ataque de Bolsonaro ao sistema eleitoral até aqui: a reunião com dezenas de embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada em que ele desacreditou as urnas, promoveu novas ameaças golpistas e atacou ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). Depois desse episódio, que gerou uma série de reveses e respostas de instituições a Bolsonaro, além de cartas em defesa da democracia, o índice de confiança nas urnas acabou subindo. Em maio, eram 73% aqueles que davam crédito à urna eletrônica —42% disseram confiar muito e 31%, um pouco. A parcela dos que não confiavam no sistema eletrônico era de 24%. Já em março, contudo, o Datafolha registrou o maior nível de confiança nas urnas desde o início da medição, em dezembro de 2020: 82% contra 17% que declararam não confiar no sistema. A suspeita sobre as urnas prospera no público bolsonarista, segundo a pesquisa. Eleitores de Bolsonaro se dividem entre 25% que dizem confiar muito, 44% que dizem confiar um pouco e 31% que dizem não confiar. Ao analisar os eleitores do seu principal rival, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a situação se inverte. No total, 60% declaram confiar muito nas urnas, 26% dizem confiar um pouco e 14% afirmam não confiar. Outro público no qual o discurso de Bolsonaro ressoa é o evangélico, que se divide entre 35% que afirmam confiar nas urnas, 38% que dizem confiar um pouco e outros 26% que responderam não confiar. O índice de alta confiança nas urnas eletrônicas, que é de 47% na média, vai a 51% entre quem tem mais de 60 anos, 54% entre quem tem ensino superior, 58% entre quem tem renda familiar de mais de dez salários mínimos, 50% entre os pretos, 52% entre desempregados e 59% entre funcionários públicos. A taxa é de 42% para quem tem entre 16 e 24 anos, 39% para moradores da região Norte, 34% para empresários e 41% para donas de casa. Na outra ponta, a média de desconfiança completa nas urnas, que é de 20%, vai a 16% entre quem tem de 16 a 24 anos, 15% entre funcionários públicos, 13% entre homossexuais e bissexuais , 22% entre aposentados e 30% entre empresários. A pesquisa Datafolha, contratada pela Folha, ouviu 2.556 pessoas em 183 cidades do país. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos. O levantamento foi registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com o número BR-01192/2022. No Brasil, nunca houve registro de fraude nas urnas eletrônicas, em uso desde 1996. Apesar disso, Bolsonaro reciclou afirmações falsas e sem comprovação na apresentação aos diplomatas estrangeiros. Por meio de uma profusão de mentiras, Bolsonaro vem fomentando a descrença nas urnas. No entanto, em vez de ser barrado por aqueles ao seu redor, o mandatário tem contado com o respaldo de militares, membros do alto escalão do governo e seu partido em sua cruzada contra a Justiça Eleitoral. O discurso golpista aparenta funcionar como um plano B para o caso de perder o pleito. O Datafolha também mostrou que o presidente está 18 pontos atrás de Lula, com 29% a 47%. Lula tem 52% das intenções de votos válidos, o que o deixa em condições de ganhar a eleição em primeiro turno. O avanço na confiança das urnas entre a população é mais um revés para Bolsonaro na esteira da apresentação aos embaixadores. Entre as principais reações ao episódio está a articulação de dois manifestos pela democracia. Um deles já foi disponibilizado para adesões públicas e teve em sua organização ex-alunos da Faculdade de Direito da USP. Assinaram empresários, banqueiros e ex-ministros do STF. O outro é de entidades empresariais e associações e conta com o apoio da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Ambos devem ser lidos no dia 11 de agosto no Largo do São Francisco, no centro de São Paulo. Os dias que se seguiram ao encontro com os embaixadores já tinham sido marcados por reações de repúdio em cadeia, incluindo a cúpula do Judiciário, diferentes setores do Ministério Público, associações de servidores públicos da Polícia Federal, da Abin e do Ministério Público, e até mesmo declarações reiterando a confiança no sistema eleitoral brasileiro por parte de autoridades estrangeiras. O Datafolha também mostrou que, para 56% dos brasileiros, os ataques de Bolsonaro ao STF, ao TSE e às eleições devem ser levados a sério pelas instituições do país. Outros 36% dizem que as declarações do presidente não terão consequências. A maioria de 56%, porém, diz que Bolsonaro não vai tentar um golpe de Estado, enquanto 37% responderam acreditar que o presidente vai tentar se manter no poder a qualquer custo. O presidente aproveitou o convite do TSE para as Forças Armadas integrarem a Comissão de Transparência das Eleições para elevar o tom contra o tribunal. Os militares também têm cobrado mudanças no sistema eleitoral. O TSE vem adotando uma série de medidas para ampliar a transparência do sistema eletrônico de votação na tentativa de esvaziar o discurso do chefe do Executivo. A crise patrocinada por Bolsonaro teve início quando o presidente disse que as eleições de 2022 somente seriam realizadas com a implementação do sistema do voto impresso —apesar de essa proposta já ter sido derrubada pela Câmara. Por CAROLINA LINHARES

Fonte: Folhapress

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