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17/01/2020 15:01h - Brasil - Política

Bolsonaro demite secretário da Cultura que anunciou prêmio com frase nazista

Bolsonaro demite secretário que usou frase de nazista Reprodução/Redes Sociais

O presidente Jair Bolsonaro demitiu nesta sexta-feira (17) o secretário especial da Cultura, Roberto Alvim, após este usar uma frase dita por um líder nazista. "Um pronunciamento infeliz, ainda que tenha se desculpado, tornou insustentável a sua permanência", afirmou Bolsonaro. O presidente reiterou o repúdio "às ideologias totalitárias e genocidas, bem como qualquer tipo de ilação às mesmas" e manifestou "total e irrestrito apoio à comunidade judaica, da qual somos amigos e compartilhamos valores em comum". Alvim usou uma frase do Ministro da Propaganda da Alemanha nazista, Joseph Goebbles, ao anunciar o Prêmio Nacional das Artes. O secretário negou citação direta, disse desprezar o Nazismo e falou que houve uma "associação remota e uma coincidência retórica entre os discursos". Em vídeo divulgado pela Secretaria Especial de Cultura, Alvim diz que "a arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional”. “Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada", afirmou. Na obra Goebbels: uma biografia, de Peter Longerich, o líder nazista disse: "A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada". A repercussão da fala do secretário, no entanto, foi tão grande que houve pressão do Congresso, do Judiciário e da comunidade judaica para a sua demissão. No final da manhã, Alvim foi chamado ao Palácio do Planalto para conversar com o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. As primeiras reações, logo no início da manhã, vieram dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, este último judeu. Maia publicou nas redes sociais um pedido de demissão e Alcolumbre ligou para o presidente da República. Partidos, como o Republicanos e o PSDB, também repudiaram a fala de Alvim. O vice-presidente da Câmara dos Deputados e presidente nacional do Republicanos, o deputado federal Marcos Pereira, repudiou de forma veemente a postura do secretário Alvim. "Tornou-se lugar-comum acusar a esquerda dos atos espúrios cometidos por quem quer que seja, dentro do governo ou fora dele. Nessa disputa estúpida de discursos vazios, ausente de razoabilidade, quem perde é o povo brasileiro", argumentou, acrescentando que o nazismo "com todo seu mal nunca deve ser esquecido para não ser celebrado, mas para nunca mais ser praticado no mundo". Por fim, Pereira aponta que Alvim deve ser demitido. O PSDB indagou nas redes sociais "como brasileiro, fruto de um dos povos mais miscigenados do mundo, pode pagar de nazista?" Em seguida, afirmou que o governo federal tem duas opções: "demitir o secretário Alvim" ou "ficar com o rótulo de nazista". O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Dias Toffoli, afirmou que “há de se repudiar com toda a veemência a inaceitável agressão” que representa a postagem feita pelo secretário de Cultura. “É uma ofensa ao povo brasileiro, em especial à comunidade judaica”, disse. O ministro do STF Gilmar Mendes disse, em sua conta nas redes sociais, que a riqueza da manifestação cultural "repele" o dirigismo autoritário nacionalista. A arte é, segundo Mendes, transformadora e transgressora. "O que faz do Brasil um país grandioso é a força da sua cultura, fruto de um povo profundamente miscigenado e diversificado", afirmou. A comunidade judaica também publicou comunicado sobre a fala. Em nota, a Conib (Confederação Israelita do Brasil) considerou ser "inaceitável o uso de discurso nazista" pelo secretário da Cultura. "Emular a visão do ministro da Propaganda nazista de Hitler, Joseph Goebbels, é um sinal assustador da sua visão de cultura, que deve ser combatida e contida", afirmou. "O Brasil, que enviou bravos soldados para combater o nazismo em solo europeu, não merece isso. Uma pessoa com esse pensamento não pode comandar a cultura do nosso país e deve ser afastada do cargo imediatamente", finalizou. O líder do Solidariedade, deputado Augusto Coutinho (PE), classificou como "inaceitável" a declaração de Alvim e repudiou qualquer ação totalitarista do Estado brasileiro. "Assisti com preocupação o vídeo no qual o min. Roberto Alvim se atém a retóricas nazistas. Postura inaceitável e que repudio. Ao Estado cabe dar subsídios para o desenvolvimento da cultura, apoiando e respeitando a pluralidade e jamais sob linhas autoritárias ou totalitaristas", disse. O Podemos também se manifestou. "É possível defender o nacionalismo sem parafrasear o nazismo", argumentou. Os integrantes da sigla acreditam que "os governos devem buscar exemplos nas democracias, nunca seguir padrões de governos totalitários". Por fim, diz que o "Brasil tem imensos desafios com sua população. E não há outro caminho, a não ser pela democracia, que os problemas de nosso país serão resolvidos".

Fonte: R7

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