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02/07/2022 02:57h - Brasília - Política

Dólar atinge maior valor em 5 meses após Senado aprovar PEC Kamikaze

Preocupação com o equilíbrio das contas públicas, somada ao temor com uma recessão mundial, afeta os mercados financeiros nesta sexta.

A preocupação dos investidores com o desequilíbrio das contas públicas no Brasil e com uma possível recessão na economia mundial pressiona o câmbio e a Bolsa nesta sexta-feira, 1.º. A cotação do dólar chegou a bater R$ 5,3382 (alta de 1,98%) no mercado à vista, o maior valor desde 4 de fevereiro. Às 14h40, a moeda americana operava em alta, aos R$ 5,2975. A pressão no câmbio no primeio dia do mês ocorre depois de o dólar registrar alta de 10,15% em junho - maior salto mensal desde março de 2020. O Ibovespa (principal índice de ações da Bolsa de Valores) também é afetado pelas preocupações com o cenário fiscal e com o cenário externo. Às 14h40, o índice recuava 0,22%, aos 98.829 pontos, depois de ter atingido 97.231,18 pontos na mínima do dia. Ontem à noite, o Senado aprovou, em dois turnos, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que amplia uma série de benefícios sociais às vésperas da eleição de outubro, chamada de PEC Kamikaze. Após a inclusão de novas medidas (auxílio-gasolina de R$ 200 por mês a taxistas, com custo de R$ 2 bilhões, e a destinação de R$ 500 milhões ao programa Alimenta Brasil), o custo do "pacote do desespero", como técnicos passaram a chamar a PEC, passou de R$ 38,75 bilhões para R$ 41,25 bilhões fora do teto de gastos - a regra que limita o crescimento das despesas do governo à inflação do ano anterior. Para blindar o presidente Jair Bolsonaro (PL) de eventuais punições da Lei Eleitoral, foi incluído na PEC um estado de emergência nacional. A legislação impede, em situação normal, a ampliação ou adoção de benesses em ano eleitoral, exceto em caso de estado de emergência ou calamidade. A proximidade das eleições de outubro acirra o desconforto político e fiscal, o que mantém os investidores na defensiva. Para Jefferson Laatus, estrategista-chefe do grupo Laatus, o mercado desconfia que a Câmara dos Deputados poderá incluir novas benesses na votação da PEC dos Auxílios, ampliando o rombo fiscal do governo Bolsonaro. "A três meses das eleições, os investidores reforçam demanda defensiva por dólar para proteção de capital diante das medidas de aumento de gastos e com vários escândalos do governo Bolsonaro pipocando. Esse ambiente deve reforçar a volatilidade do câmbio", afirmou. Hoje, o presidente Jair Bolsonaro disse que "não falta dinheiro na nação para atender à população". Já o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, deputado Arthur Maia (União Brasil-BA), afirmou que a PEC dos Benefícios pode ser aprovada terça-feira na Casa. "As questões políticas no Brasil não ajudam, com preocupação principal com o fiscal. A gastança continua. Depois, em 2023, quem pagará a conta?", questiona Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença. "Lá fora, tem toda a preocupação com recessão, inflação e juros altos", acrescenta Monteiro. O analista de câmbio da corretora Ourominas, Elson Gusmão, reforça que o aumento das despesas fora do teto deve gerar mais inflação pelo lado do aumento de consumo e dos preços e vai obrigar o Banco Central a aumentar mais os juros em agosto e a Selic tende a se manter alta por longo período, pressionando o PIB do País para baixo, avalia. Além das preocupações com as contas públicas, o mercado externo também afeta a Bolsa e o câmbio nesta sexta. Uma série de divulgações de índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) industrial em várias partes do globo - principalmente EUA, Europa e Japão - indicou fragilidade da atividade econômica, ao passo que a inflação segue galopante na zona do euro. Enquanto o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) do bloco atingiu recorde de 8,6% em junho, o PMI da indústria cedeu a 52,1 no mês passado, atingindo o menor nível em 22 meses. Já o PMI dos EUA caiu a 52,7 em junho (medido pela S&P Global), alcançando a marca mais baixa em dois anos, enquanto o apurado pelo ISM de Chicago foi a 53 (previsão de 54,3). Os dados econômicos reforçam a percepção de recessão e esfriam um pouco as expectativas de agressividade do aperto monetário por Bancos Centrais para combater a inflação. Nesta semana, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, reconheceu que o processo de aperto monetário muito provavelmente envolverá "alguma dor" do ponto de visto econômico, mas que a ameaça ainda mais grave seria fracassar em controlar a inflação. Maria Regina Silva e Silvana Rocha

Fonte: Estadão

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