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03/11/2020 09:22h - Porto Velho - Saúde

Estudo revela que maioria das mulheres com gravidez molar em Rondônia tem idade entre 18 e 30 anos

Cíntia dos Santos, de Nova Mamoré, teve meningococemia, e agora recebe atendimento para debelar um cisto uterino

Atualmente, 75% das mulheres com gravidez molar em tratamento no Centro de Referência de Doença Trofoblástica Gestacional de Rondônia (Centrogesta) têm idades entre 18 e 30 anos. Em 2019, o tratamento ambulatorial do Centrogesta somou 323 atendimentos, com 26 novas pacientes. Destas, 12 engravidaram dando à luz bebês saudáveis. Essa doença* [mola hidatiforme] tem 150 mil casos por ano no País, segundo informam os Hospitais Albert Einstein e Israelita, de São Paulo. No Centrogesta passaram 23 pacientes abaixo de 18 anos e uma com apenas 12 anos de idade; outras 12 estão acima dos 40. Chama atenção o fato de a doença trofoblástica ser constatada em mulheres na idade fértil, como alertou a diretora do Centro, médica ginecologista Rita de Cássia Alves Ferreira. No entanto, ela ressalvou que a maioria das pacientes tiveram filhos após o tratamento quimioterápico. Estudo feito pelo médico Antônio Braga e outros cinco profissionais do Centro de Doença Trofoblástica, Maternidade Escola, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, revela que o tratamento quimioterápico é capaz de curar a grande maioria das pacientes, preservando sua capacidade reprodutiva que, pelo geral, não se altera. “O tumor benigno se desenvolve no útero, como resultado de uma gestação não viável. Pode ou não haver a presença de um embrião ou tecido placentário; se houver um embrião, infelizmente, ele não sobreviverá”, diz o estudo. É com essa realidade que lida o Centrogesta, que funciona atualmente no antigo Hospital Barretinho. Na prática, suas atividades começaram em 2011, e oficialmente em 2014. Funcionou inicialmente na Sala de Vivências Terapêuticas do Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro. Mesmo parecendo inicialmente normal, quando os sintomas se desenvolvem, causam na mulher o sangramento vaginal que pode ser marrom escuro ou vermelho vivo, durante o primeiro trimestre, além de náuseas e vômitos. E aí, é preciso remover o tumor para evitar complicações graves. Desde o início da pandemia do novo coronavírus [Sars-CoV-2] até setembro deste ano, 76 pacientes passaram pelo Centro de Referência, 16 delas, novas na estatística. O ambulatório fechou em março, porém, o atendimento funcionou no plantão do HB. A rede municipal de saúde encaminha as mulheres, 80% delas procedentes de cidades do interior de Rondônia. CÍNTIA É LUZ Cíntia Costa dos Santos, 25 anos, moradora de Nova Mamoré, chegou ao Centrogesta carregada numa cadeira de rodas, pois teve as duas pernas amputadas devido à meningococemia. A doença também lhe prejudicou a mão direita. Nem cabisbaixa, nem demonstrando tristeza, entrou altaneira no prédio da Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon). Na quinta-feira (29), ela sorria ao retornar acompanhada por uma irmã. Pela resignação e pela postura, não seria exagero afirmar que Cíntia é luz entre as mulheres vítimas de “mola” divididas em dois grupos de WhatsApp: flores de íris, pacientes em início de tratamento, e flores de jambu, as que concluíram o acompanhamento, porém, seguem com o vínculo ao programa. A meningite meningocócica [infecção das membranas que recobrem o cérebro] faz parte das doenças imunopreveníveis mais temidas. Ela é causada pela bactéria Neisseria meningitidis [meningococo] e é mais grave quando atinge a corrente sanguínea, provocando meningococcemia — infecção generalizada. É a situação dessa mulher que parou de trabalhar e, apesar dos obstáculos, ainda cuida bem do filho Nicolas, 8, e de Maria Cecília, 2. Ela teve meningococemia assim que a filha nasceu. Cíntia faz parte do universo de 1,5 mil a 3 mil brasileiros acometidos a cada ano por esse tipo de doença. “Eu vim colocar o DIU [dispositivo intrauterino] e constataram um cisto de útero; no dia 8 de outubro comecei o tratamento”, contou Cíntia. Cisto uterino, também chamado de fibroma uterino, mioma ou fibromioma, é um crescimento tecidual no útero. Esses crescimentos são muito comuns; 75% das mulheres têm um cisto uterino em algum momento de suas vidas. “Daqui para frente, quem cuida dela somos nós”, disse a psicóloga Rose Brito,da Agência Estadual de Vigilância em Saúde (Agevisa), voluntária no Centrogesta. Enfatizando que a outra doença segue observada por outros profissionais. Brevemente, Cíntia ganhará próteses. DIAGNÓSTICO PRECOCE Juliana da Silva Trindade, 29, vendedora de roupas em Candeias do Jamari, consultava pela quinta vez na semana passada. Com gravidez molar, essa porto-velhense perdeu o primeiro bebê no dia 23 de outubro. Ignorava a consequência da doença, figurando como exceção na estatística geral que revela a recuperação das mulheres nessa situação. “Não conhecia esse problema, me assustei, mas depois que vim para cá minha mente mudou, comecei a dieta, me tranquilizei, posso dizer que estou equilibrada, e o melhor resultado se Deus quiser virá”. Juliana fez o exame BHCG, uma coleta de sangue que quantifica a presença do hormônio HCG no sangue e mostra se há indícios de gravidez, quanto tempo de gestação e se está tudo correndo conforme o esperado. Mais à frente, ela admitiu, espera ser mãe. A médica Rita de Cássia reiterou: “O diagnóstico precoce é tudo, a rede de atenção primária precisa apoiar a identificação da mola hidatiforme; se o tratamento for imediato, maior a chance de vida da mulher”. A especialista considera importante que a rede saiba mais sobre a doença trofoblástica gestacional e a encaminhe diretamente aos cuidados do Centrogesta. “Tanto para o tipo de procedimento quanto para dar sequência ao tratamento”, assinalou. * Doença trofoblástica gestacional (DTG), a Mola Hidatiforme, é uma anomalia da gravidez que engloba formas clínicas benigna (hidatiforme completa e parcial) e maligna (invasora, coriocarcinoma, tumor trofoblástico do sítio placentário e tumor trofoblástico epitelióide). Em sua forma mais comum, ela acomete uma em cada 200 a 400 gestações no Brasil, ou seja, cinco a dez vezes mais frequente do que na América do Norte e na Europa.
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Fonte: SECOM

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